Francisco, chamado por Deus a reconstruir a sua Igreja, nosso Pai a confirmar e presidir todos na unidade da fé e na caridade.
Alguns pontos que podemos extrair daquilo que ele já demonstrou ao mundo nesta primeira semana:
Em primeiro lugar, será um pontificado contextualizado em uma hermenêutica da continuidade em relação ao predecessor, Bento XVI, de quem Francisco está muito próximo “na oração, cheia de afeto e gratidão”. Não haverá ruptura das ações programáticas do papa antecessor, mas uma continuidade e complementariedade criadora, com selo próprio latino-americano.
Um segundo elemento, extraído da escolha da festa de São José para iniciar o ministério petrino, é a função de “custódio” dos dons de Deus, que o papa Francisco quer desempenhar na vida da Igreja.
É preciso recordar que o documento de Aparecida, da V Conferência do Episcopado Latino-Americano (2007), em que o então cardeal Bergoglio foi presidente da Comissão de Redação, diz com muita clareza, seguindo o discurso inaugural de Bento XVI: a Igreja tem “... a grande tarefa de custodiar e alimentar a fé do povo de Deus e recordar aos fiéis deste continente que, em virtude do seu batismo, eles são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Logo a seguir, o texto trata da sede de Deus que os nossos povos manifestam e que, às vezes, pretende ser saciada com ofertas religiosas variadas, com expressões culturais alheias à tradição cristã ou com ideologias de tipo social ou político.
Há um terceiro elemento que pareceria de menor importância, mas que, no papa Francisco, é muito relevante: o estilo. Não se pode ser papa de qualquer jeito. É necessário ter estilo. Esse estilo vem representado nos três personagens que ele citou na homilia: Maria, José e Francisco de Assis. E os dinamismos desse estilo se expressam na discrição, na humildade, no silêncio, “mas com uma presença constante e uma fidelidade total”, bem como no respeito por todas as criaturas de Deus e pelo ambiente em que vivemos.
Uma quarta linha orientadora se situa no âmbito das exigências. Será um ministério com as atenções voltadas para Deus, mas atento também ao que o rodeia, aberto aos sinais dos tempos, que sabe ler com realismo os acontecimentos, sensível às necessidades das pessoas que lhe foram confiadas, disponível para escutar, guiado pela vontade de Deus e capaz de tomar as decisões mais sensatas.
Um quinto elemento da sua homilia é o paradigma da ternura, que é a virtude dos valentes e que se expressa na fortaleza de ânimo e na capacidade de atenção, de compaixão e de verdadeira abertura ao outro. É, enfim, o amor autêntico. Por isso, Francisco convidou a abraçar este paradigma com um convite à coragem: “Não devemos ter medo da bondade, da ternura”.
No campo das opções, destaca-se a sua preocupação com os pobres e excluídos. Talvez o que mais foi destacado pela mídia foi a sua concepção do poder como serviço: “Nunca nos esqueçamos de que o verdadeiro poder é o serviço, e que o papa também, para exercer o poder, precisa entrar cada vez mais nesse serviço, que chega ao seu ápice luminoso na cruz”.
Trata-se de um serviço especialmente voltado aos pobres e aos humildes, para “...acolher com afeto e ternura a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais frágeis, os menores; é o que Mateus descreve no juízo final sobre a caridade: o faminto, o sedento, o forasteiro, o nu, o doente, o encarcerado (cf. Mt 25,31-46). Só quem serve com amor sabe proteger”.
Finalmente, o núcleo do ministério petrino de Francisco é Jesus Cristo. Tudo o que foi dito anteriormente só é possível quando se é capaz de responder ao chamado de Deus com disponibilidade, com prontidão. Por isso, ele diz com muita propriedade: “Cuidemos de Cristo em nossa vida, para cuidarmos dos outros, para salvaguardar a criação”.